Ao todo, 40 mulheres perderam a vida, por simplesmente serem do sexo feminino
Dados do Mapa do Feminicídio de Mato Grosso do Sul mostram que 2020 foi o ano com maior número de registros de femicídios no Estado, desde 2015, quando o código penal foi alterado e o feminicídio passou a ser considerado como crime hediondo. Em todos os meses do ano passado, MS registrou esse tipo de crime. Ao todo, 40 mulheres perderam a vida, por simplesmente serem do sexo feminino.
A maioria dos crimes foram cometidos nas residências, o que equivale a 77,5% dos casos e 80% dos autores foram ex-conviventes. Com relação às armas utilizadas, em 47,5% dos casos foram utilizadas as armas brancas e em 30% dos casos, as mulheres foram mortas com arma de fogo.
As estatísticas trazidas pelo Mapa comprovam que na maioria dos casos, as mulheres foram mortas nos locais onde mais deveriam se sentir seguras, em suas residências. As mortes ocorreram pelas mãos de seus companheiros ou ex-companheiros, que não aceitavam o fim do relacionamento ou manifestavam sentimento de posse e de objetificação em relação à mulher.
Registre
Informações da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, apontam que em 2020 houve redução dos registros de crimes de violência doméstica, porém, do ponto de vista das políticas públicas para mulheres, isso é consequência das dificuldades encontradas pelas vítimas para a realização da denúncia.
Mesmo com número reduzido, 17.286 mulheres registraram Boletim de Ocorrência por algum tipo de violência doméstica e familiar. Isso significa que, por dia, mais de 47 mulheres procuraram uma delegacia. Além disso, 1.424 mulheres registraram BO por estupro, uma média superior a 118 BOs por mês.
Para encerrar o ciclo de violência e evitar o femicídio é necessário que a vítima procure ajuda e realize a denúncia. O Estado possui 13 Delegacias de Atendimento à Mulher. A vítima também pode realizar a denúncia de forma on-line, através do site Não se Cale ou utilizar o disque 100.
De acordo com a delegada titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), Elaine Cristina Ishiki Benicasa, muito já se fez em Mato Grosso do Sul, mas o caminho ainda é longo. “A Lei Maria da Penha é considerada pela ONU [Organização das Nações Unidas] como uma das três melhores legislações do mundo aplicadas contra a violência de gênero, contudo, o Brasil configura entre os mais violentos quando se trata de violência doméstica, ou seja, a conta não bate. Aqui em MS temos diversas ações de acolhimento para a mulher vítima de violência, um exemplo, é a Casa da Mulher Brasileira que foi a primeira do País”, afirma.
Ela continua sua análise destacando a importância da informação. “Acredito que o tripé informação, educação e reeducação é a base para mudarmos essa triste realidade. A falta de denúncia é, muitas vezes, devido ao medo da vingança do próprio agressor, do julgamento da sociedade, dependência financeira e, até mesmo, emocional. Precisamos focar nas soluções não só para as mulheres, mas estratégias para que o agressor não se perpetue e não seja um instrumento de rompimento de famílias. Precisamos multiplicar cada vez mais as informações sobre o assunto para as mulheres se empoderarem e denunciarem, educar as novas gerações para que a médio e longo prazo não tenhamos mais registros dessa natureza e reeducar os adultos [homens e mulheres] com o objetivo de mudar as atitudes machistas”, pondera.
A delegada diz que mesmo em anos de profissão, a indignação é quase que diária. “Não tem como fugir. Você saber que alguém foi agredida, morta pelo simples fato de existir, de ser mulher, de querer recomeçar a vida… mexe com a sensibilidade de qualquer um. Todavia, agimos sempre dentro da lei e buscando solucionar os casos para que a justiça seja feita”, finaliza.
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Assessoria de Comunicação PGE/MS
Foto capa: Freepik
Arte: Karla Tatiane