Não são todos que realizam os velhos sonhos de infância. Mario Quintana
As relações afetivas entre os familiares são fundamentais na formação dos traços de personalidade e comportamentos de qualquer pessoa. O relacionamento entre irmãos tem relevância particular, já que a proximidade entre eles favorece a formação de vínculos duradouros baseados no respeito e companheirismo.
Hoje, para comprovar a afirmação acima, o projeto “Inspire-se” contará histórias que relatam a vivência de irmãos trabalhando no mesmo local, no caso, a PGE. Comecemos com a de Itaneide Cabral Ramos. Ela trabalhava no Fórum de Dourados, no final da década de 1980, “porque na época não tinha os mecanismos de estágios como os oferecidos atualmente e, no trabalho, conheci pessoas que foram importantes para minha tomada de decisão, a de me tornar uma procuradora do Estado. O ex-procurador-Geral da PGE, Ricardo Nascimento de Araújo; os promotores públicos, Ayrton José Motta Nunes Mota e Irma Vieira de Santana e Anzoategui; além do desembargador Dorival Moreira Santos são algumas delas”, lembra saudosa.
Itaneide (dir.) com as colegas procuradoras Arlethe de Souza, Sandra Caligaris e Elise (esq. p/ dir.). Foto Arquivo pessoal
“Quando abriu o segundo concurso para a instituição eu fiz e passei. Via como uma carreira promissora e abracei a oportunidade com toda minha força, além de servir de incentivo para outras pessoas a prestarem o concurso para PGE. De lá para cá eu e meus colegas de jornada já passamos por algumas provações profissionais, reestruturações, mas sempre acreditando no progresso da carreira, sendo que, naquele tempo algumas pessoas não viam com bons olhos o trabalho da PGE, porque achavam que o serviço era apenas de executar e cobrar impostos, ou que não ocupávamos uma relevância para a sociedade, como a de outras carreiras jurídicas que trabalham em prol do hipossuficiente, por exemplo”, afirma uma das veteranas da instituição.
A procuradora do Estado ressalta que é feliz com sua trajetória. “Meu pai era um homem simples e sempre sonhou em estudar e atuar no Direito Criminal, mas a vida não o permitiu a realizar este sonho, mas tenho certeza que quando ele viu eu e meu irmão na carreira se sentiu um pouquinho realizado e orgulhoso pela nossa conquista, declara e para finalizar ainda cita: “Aliás, quando meu irmão passou no concurso eu não sabia que ele estava concorrendo e foi uma grande e grata surpresa, fiquei emocionada. Para mim, atuar como procuradora do Estado é gratificante. Poder defender bem o Estado e não termos uma zona de conforto devido aos desafios constantes da profissão é que nos motiva, todos os dias – lutar pelo bem coletivo”.
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Itaneide Ramos.
Foto: Marcos Vollkopf/Divulgação
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Antonio Ramos.
Foto: Arquivo pessoal
O irmão e procurador do Estado, Antônio de Souza Ramos Filho, revela que seu percurso para chegar na PGE não foi sonhado nem planejado. “Na época, eu era advogado de carreira do Banco do Brasil e nem pensava em fazer o concurso da PGE. Minha esposa que correu atrás de tudo, foi ela quem me apoiou e incentivou para que eu tentasse. A compreensão e apoio dela e da família foram fundamentais. Também tive o consentimento do meu chefe para tirar alguns dias de férias para estudar e me dedicar às provas, aí não tive dúvidas em me arriscar naquela jornada… até porque era amigo e tenho até hoje alta estima e admiração por vários procuradores como, por exemplo, Elide Rigon, Nei Ribas, Arlethe Maria de Souza, Senise Freire Chacha, entre outros…”, relembra nostálgico e com sua voz serena que é uma de suas características.
Antônio e a esposa Mercedes Foto: Marcos Vollkopf/Divulgação
Hoje, 22 anos depois, ele não se arrepende da decisão tomada. “Para mim é uma honra muito grande compor o quadro de procuradores do Estado de MS. Vejo nossa carreira, mesmo atuando tanto tempo, como promissora e relevante. Poder auxiliar os gestores públicos para que tomem decisões mais assertivas, dentro da legalidade, que não tragam prejuízos para o Estado é extraordinário. Devido a nossa profissão somos chamados para participar, efetivamente, do desenvolvimento de Mato Grosso do Sul e, para mim, essa possibilidade é ímpar”, finaliza recordando de que “quando passei no concurso minha irmã ficou feliz, mas também surpresa porque não achava que eu deixaria o BB para iniciar uma nova carreira”, afirma.
Outra narrativa na qual a PGE é cenário envolve a história das irmãs Carina Souza Cardoso e Carla Cardoso Nunes da Cunha. Carina foi a primeira a conseguir aprovação no concurso da instituição, mas lembra com gratidão que só fez a inscrição “porque a princípio estava cuidando da documentação necessária para minha irmã Carla e, então soube que também poderia fazer, que estava dentro dos critérios do edital para disputar uma vaga”, recorda com sua voz tranquila e emocionada. Na época ela já trabalhava no fórum, em Dourados, como escrevente judicial.
“Eu tenho certeza que fiz a melhor escolha. Hoje não me vejo em outra profissão e sempre indico a carreira de procurador do Estado para quem tem interesse. Acredito que se não for a melhor, é uma das melhores. Gosto de defender o interesse público estatal; nós procuradores defendemos o Estado e não o gestor – mesmo que algumas pessoas, às vezes, confundam nosso ofício. Nosso dever é zelar por tudo que envolva o bem público. Sou muito realizada com minha profissão”, revela a procuradora do Estado com experiência de três décadas comemoradas no fim deste mês de setembro.
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Registro da assinatura de posse.
Foto: Arquivo pessoal
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Na atualidade, com 30 anos de carreira.
Foto: Arquivo pessoal
Ela também conta que nunca trabalhou junto com a irmã e que o Direito faz parte da família. “Somos quatro irmãs e todas optaram por se dedicar ao Direito, mas cada uma tem sua individualidade, a sua própria forma de pensar sobre a importância de defender o Estado. Para mim, o Estado é nosso único cliente e cada uma, na posição que ocupa, o defende da melhor forma. Eu e Carla nos tornamos procuradoras do Estado, Karen advogada e juíza leiga e Kátia é defensora pública. Nós duas nunca trabalhamos juntas, mesmo exercendo a mesma carreira”, pontua.
Antes de finalizar a conversa, a procuradora Carina lembra do início de seu ofício: “Comecei o concurso com 21 e tomei posse aos 23 anos tendo iniciado as atividades no município de Jardim. Na época, era tão jovem que algumas pessoas iam ao local onde trabalhava e não acreditavam que eu quem era a procuradora. Em todos estes anos foram muitos aprendizados e amizades construídas como com a do ex-procurador-Geral Salomão Francisco Amaral”, conclui.
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A alegria de um encontro das 4 irmãs.
Foto: Arquivo Pessoal
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Dona Gilca (centro), rodeada pelas filhas.
Foto: Arquivo pessoal
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Karen, Carina, Carla e Kátia em dia de comemoração.
Foto: Arquivo pessoal
Já a irmã Carla Cardoso Nunes da Cunha, que atualmente ocupa o cargo de Corregedora-Geral da PGE, conta que se apaixonou pelo Direito Público ainda na faculdade, porém, foi a partir do seu trabalho em uma empresa de economia mista que teve sua maior proximidade e experiência com a matéria. “Eu era funcionária concursada do TJMS e trabalhava no fórum de Dourados. Aí fui convidada para trabalhar em uma empresa como advogada, aceitei e me mudei para Campo Grande. Um dia precisei ir à PGE e fui atendida pela procuradora do Estado, Elide Rigon, hoje aposentada, e devido a seu profissionalismos e postura, inegavelmente, foi uma inspiração para mim. A partir daquele momento tive a certeza de que aquela era a carreira que eu queria para minha vida… Por isso, sempre que a encontro faço questão de registar e dizer que ela é minha musa inspiradora …”, afirma.
Grata ao relembrar do seu passado, a procuradora também cita “a importância fundamental do desembargador, também aposentado, Athayde Nery de Freitas que, além de abrir as portas da sua imensa biblioteca pessoal me matriculou, para minha surpresa, em uma pós em Direito do Estado, o que fez toda a diferença para minha preparação… e da saudosa amiga da minha vida, Leonídia Maria França Jardim. Sem essas pessoas, dentre outras, meu sonho não poderia ter sido realizado”, ressalta.
Carla rememora, durante a conversa, o caminho percorrido até alcançar o sucesso profissional: “Nossa família é de origem humilde. Viemos do Rio Grande do Sul ainda antes da divisão de MS e tivemos que lutar muito para realizar os nossos sonhos. Somos quatro irmãs, Kátia, eu, Carina e Karen sempre ladeadas por nossa mãe, Gilca. Mal poderíamos imaginar que, nos tornaríamos advogadas, realizando, quatro vezes, o sonho que nossa mãe tinha para si”, conta com orgulho de sua trajetória e família.
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Carla, na atualidade,
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com os filhos ou com o
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marido, Leonardo Filho, é grata pela sua trajetória.
Fotos: Arquivo pessoal
Sobre ser procuradora do Estado, ela diz que se sente “como um soldado na linha de frente de batalha, na defesa dos interesses do Estado. Todos os dias, agradeço a Deus pela oportunidade de defender o Estado que tão bem nos acolheu. E é esse reconhecimento que aumenta o meu compromisso, me dá ânimo, forças e resiliência para superar os inúmeros desafios, trazendo-me a certeza absoluta de que tudo valeu a pena. Amo a minha carreira e a minha instituição da mesma forma de quando nela ingressei, há 26 anos”, finaliza.
Eimar e a esposa Marcivani em dia de homenagem. Foto: Arquivo pessoal
A próxima história é de Eimar Sousa Schrider Rosa. Há 22 anos na PGE, ele trabalha na mesma instituição que a irmã, a procuradora do Estado Suleimar Sousa Schoder Rosa. “Passamos juntos, no mesmo concurso. Em primeiro lugar, antes de tudo, sou grato a Deus por ter me colocado aqui. Depois a minha irmã que, praticamente me obrigou a prestar o certame. Ela que cuidou de tudo, inclusive, em fazer minha inscrição. Na época, já atuava na advocacia privada e, não tinha tempo e nem muito interesse em sair, mas ela insistiu tanto que comecei a estudar com ela todas as noites…Brinco que me classifiquei em segundo lugar porque queria que ela fosse a primeira”, revela o procurador do Estado com seu jeito atencioso de tratar as pessoas.
Ele admite que é difícil definir o que é ser um procurador. “É algo tão lindo, que fico sem palavras para falar. É tão lindo o embate que temos ao defender o Estado, defender toda a sociedade. O que fazemos, diariamente, para quase dois milhoẽs de habitantes em MS, é preservar o bem público e a satisfação desse ato não tem palavras. É muito gratificante, poder ter a liberdade de trabalhar, de advogar em nome de um bem coletivo. É claro que nem tudo são flores, passamos por momentos difíceis como em qualquer carreira, mas o segredo é virar a página e focar no que podemos proporcionar e fazer em prol da coletividade. Além do que a carreira proporcionou a mim que pudesse oferecer àqueles que amo um conforto financeiro, uma qualidade de vida onde tenho consciência que poucos conseguem”, afirma.
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Registro da família em dia de reconhecimento.
Foto: Arquivo pessoal
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Eimar e a mãe, Sueli.
Foto: Arquivo pessoal
Para finalizar sua participação ele lembra dos pais. “Meus pais ensinaram que a única riqueza, a única herança que deixariam para nós seria os estudos. E acredito que nós conseguimos entender e aproveitar as oportunidades que surgiram. Penso que tanto as minhas conquistas quanto das minhas irmãs coroaram uma vida de muita luta, dedicação e provações que eles passaram para poder nos criar. É muito honroso isso”, termina emocionado em remexer suas memórias afetivas.
Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmão – Nelson Mandela
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Foto capa: Wallhere
Arte: Guido Brey