O êxito da vida não se mede pelo caminho que você conquistou, mas sim pelas dificuldades que superou no caminho. Abraham Lincoln
Nem tudo em nossas vidas são flores, não é verdade? Nem tudo é perfeito, nem as pessoas e situações são da maneira com que desejaríamos ou esperávamos que fossem… Entretanto, saber lidar com as dificuldades que se apresentam durante nossa existência talvez seja a habilidade mais importante que podemos desenvolver como seres humanos. Uma das nossas poucas certezas da vida é que lidaremos com desafios, atribulações e dificuldades diversas até o nosso último suspiro.
Como, então, encarar os problemas do dia a dia? Que meios dispomos para transformá-los em oportunidades? Não existe uma receita, não existe uma verdade ou apenas um caminho de como superar os obstáculos, mas as narrativas do “Inspire-se” de hoje mostram que uma característica é essencial para seguir em frente: a resiliência.
Já imaginou ser separado dos pais, por amor, aos sete anos? É com esse drama que começamos a história de José Aparecido Barcello de Lima. “Meus pais possuíam pouco estudo e sempre trabalharam em fazenda. Como não queriam a mesma vida para mim, pediram ao patrão deles que me levasse para a cidade, morar com a família dele, para que eu pudesse estudar… Nas férias eu voltava para casa e ficava na fazenda com meus pais, ajudava na ‘lida’ com o gado até que um dia meu pai me proibiu de voltar para casa e eu, sem saber o motivo, sofri muito… anos depois, já adulto, ele revelou que tomou esta atitude porque ouviu um pião conversando comigo e dizendo para eu parar de estudar, então, ficou com medo de eu ser influenciado e não querer ‘ser alguém’ na vida”, revela com lágrimas o início da trajetória que o fez tornar, hoje, um procurador do Estado.
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Em reunião com o presidente da Câmara dos Deputados e outras autoridades, em 2001.
Foto: Arquivo pessoal
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Abertura do 28º Congresso Nacional dos Procuradores do Estado, em 2002.
Foto: Arquivo pessoal
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Ao centro, recebendo homenagem da Associação do Procuradores de MS, em 2009.
Foto: Alems
“Aos 15 anos já trabalhava em cartório, na área de protesto, então, decidi estudar Direito quando chegou a época da faculdade e também foi bem desafiador. Trabalhava o dia inteiro no município de Nova Andradina e à noite com mais três amigos viajávamos 373 quilômetros [ida e volta] de carro até Dourados para estudar. Já era casado e batalhava muito para poder oferecer a minha família uma vida melhor. As dificuldades do meu passado e do meu presente, na época, eram como molas propulsoras para que eu construísse um futuro melhor para nós. Foram anos de abdicação, de paciência, de obstinação e apoio da minha esposa e filhos… até que abri um escritório e comecei a advogar. Mas como morava no interior e via os filhos crescendo, pensei que não deixaria eles passarem o que passei, não queria me separar deles quando chegasse a hora de estudarem na Capital”, confessa quem com propriedade sabe das dores e traumas que a separação familiar pode causar.
Então, quando surgiu o concurso da PGE de Mato Grosso do Sul não teve dúvidas. Era a grande oportunidade da sua vida, de alcançar o seu objetivo. “Como sempre gostei de estudar, de advogar, consegui passar no certame e mudamos para Ponta Porã, onde moramos por dois anos até vir para Campo Grande… para mim realmente ser procurador do Estado é a realização de um sonho. Trabalhar na PGE me possibilitou advogar, defender meu Estado e ainda tive a possibilidade de proporcionar a minha família uma vida melhor. Também tive o privilégio de retribuir aos meus pais por todo sacrifício que passaram para que eu alcançasse o sucesso. Hoje, já sou avô, e tenho consciência de quanto meus pais sofreram ao tomarem a atitude que tiveram, sou grato a eles. Digo que minha ascensão até chegar aqui foi uma somatória de sonhos meus e das pessoas que me amam. Eu vejo meus pais, minha esposa e filhos como meus heróis que me deram, cada um da sua forma, forças para continuar caminhando”, finaliza emocionado o procurador que dedica sua vida há 28 anos para a carreira.
Outra história sobre resiliência é de Lidiane Cristina Cornaccini Sallesse Lorenzoni. “Venho de uma família simples, nunca nos faltou nada, mas vivíamos uma vida sem luxos. Meus pais sempre lutaram para deixar para os filhos o estudo, e teve uma época em que todos os quatro filhos estavam na faculdade…daí você imagina como um casal simples de trabalhadores lutou para nos manter, era um sacrifício vivido por todos nós da família com um único intuito: conquistar uma vida melhor”, declara comovida.
“Na época de faculdade eu fiz estágio na penitenciária de Valparaíso, minha cidade, interior do estado de São Paulo. Minha chefe era a Débora Maria de Souza Paulino, advogada da Funap [Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” de Amparo ao Preso] na época e hoje Defensora Pública de Mato Grosso do Sul. A partir do contato com ela tive a oportunidade de iniciar estágio voluntário na Procuradoria do Estado, na Regional de Araçatuba, cidade onde fazia faculdade. Logo teve processo seletivo para estágio concursado na instituição, fiz e passei. Para auxiliar na renda nessa época, já que tinha que morar em Araçatuba por causa do estágio, fazia e vendia trufas de chocolate com algumas amigas, trabalhava o dia inteiro e estudava enfim, a construção do meu êxito teve início como o da maioria das pessoas… Sabia que a área que queria atuar era a Advocacia Pública, nunca me vi na magistratura ou MP. Logo depois de formada, me casei e para minha sorte meu marido Roberto sempre me apoiou, nunca me deixou desistir. Eu estudava dia e noite no início do casamento e ele em nenhum momento me cobrou resultados”, conta com ternura a procuradora do Estado que atua há 15 anos na instituição.
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Época da formatura.
Foto: Arquivo pessoal
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Posse com a presença do marido, pais e sogros.
Foto: Arquivo Pessoal
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Registro com a família.
Foto: Arquivo pessoal
Assim ela começou a fazer concursos, inclusive da PGE de Mato Grosso do Sul, sem sucesso. Mas para quem já tinha superado tantas diversidades nada a abalava. “Conquistei minha vaga na PGE na segunda tentativa, aos 24 anos e, ao mesmo tempo, passei no concurso de advogado da Petrobrás, mas não tive dúvidas em decidir pela Procuradoria-Geral. Inclusive realizei minha prova oral na PGE no dia do meu aniversário. E posso dizer com toda certeza: não foi sorte, foi determinação. Além disso, acreditar que você é capaz faz toda a diferença. Eu sei que é clichê dizer, mas atuar como procuradora do Estado é um sonho para mim. Aliás, a PGE não me trouxe só realização profissional, mas também pessoal; como eu e meu marido estamos longe da família, foi na instituição que construímos alguns laços de amizade, durante este período nos tornamos pais, tenho a PGE como extensão da minha família e poder defender o estado de Mato Grosso do Sul para mim é uma honra”, conclui entre risos e coração em paz.
Mais uma narrativa com esta temática é de Sérgio Wilian Anníbal. “Quando decidi estudar Direito trabalhava como escrevente no fórum de Três Lagoas… Tenho tios e outros parentes advogados que me incentivaram a seguir também nessa área. Trabalhava o dia inteiro e à noite viaja de ônibus cerca de 280 quilômetros [ida e volta] para o município de Araçatuba, interior do estado de São Paulo porque era o local mais próximo que ofertava o curso…foi uma fase de muito sacrifício, desgaste…mas não desisti”, conta.
“O desafio foi recompensado. Ainda durante a fase de faculdade, eu passei no concurso da Caixa Econômica Federal e, tempos depois, em um concurso interno da instituição já para a função de advogado. Mas quando soube da oportunidade do certame da Procuradoria-Geral do Estado me dediquei muito mais aos estudos para conquistar uma das vagas e consegui atingir minha meta”, lembra emocionado o procurador do Estado há 28 anos.
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Dia de homenagem ao lado de autoridades.
Foto: Alems
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Clique com o filho mais velho e a esposa….
Foto: Arquivo pessoal
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…mais um registro do casal para completar a família.
Foto: Arquivo pessoal
Em relação a sua opinião sobre a carreira ele responde com uma fala firme. “O convívio nessa área jurídica me deixa bastante realizado. Trabalhar em prol da sociedade é prazeroso. Historicamente a função de procurador do Estado é importante, é um ofício que ajuda aos gestores juridicamente na aplicação mais assertiva do dinheiro público, evita prejuízos para a sociedade, criando as condições para a realização efetiva e concreta das políticas públicas. Vejo a função de procurador, em muitas ocasiões, como a de um bombeiro: trabalhando na prevenção e, às vezes, apagando fogo”, conclui.
Agora, imagine a situação: uma mulher na faculdade de Direito nos meados da década de 1980 realizando seu sonho e – em parte da família -, mãe de um bebê com um pouco mais de um ano e meio, grávida, recém-separada e desempregada. Ficção ou vida real? Esta é outra narrativa para entendermos o que é a força da resiliência e quem nos conta é Senise Freire Chacha.
“Meu pai e avô materno tinham o sonho de serem advogados, mas a vida apresentou outros planos para eles e eu cresci vendo e ouvindo eles sempre comentarem sobre este desejo não realizado… acredito que foi assim que me interessei pelo Direito talvez por, indiretamente, tornar o sonho deles em realidade através de mim… No entanto, vivia um momento de turbulência pessoal e todos os dias era um obstáculo a ser superado. Antes de dar à luz ao meu segundo filho procurava emprego, mas grávida não conseguia nenhuma oportunidade… até que com 45 dias de puerpério uma amiga da faculdade me disse que o Ricardo Nascimento de Araújo, na época procurador do Estado, precisava de uma secretária e teria um concurso de seleção. Eu não pensei duas vezes, me inscrevi e fui participar, pois, precisava sustentar meus filhos… 45 dias depois fui chamada e comecei ganhando um salário mínimo para trabalhar o dia inteiro”, confidencia serenamente suas memórias.
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Entre ‘dona Tiana e seo Salvador’.
Foto: Arquivo pessoal
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Assinatura de posse.
Foto: Arquivo pessoal
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Close especial…
Foto: Marcos Vollkopf/Divulgação
“Foi neste período que conheci a procuradora Elide Rigon pessoa ímpar na minha história e que me ensinou a otimizar disciplina e ética profissional, a ser visionária, a como lidar de forma prática com os processos… Cerca de três anos depois, meu trabalho foi reconhecido e consegui um cargo de assessora de procurador. Nesta época, já tinha terminado a faculdade e seguia estudando para concurso público. Trabalhava o dia inteiro e ficava na biblioteca da instituição todos os dias até meia noite estudando porque não tinha livros e nem autorização para levá-los para casa… quando sentia fome bebia água e não me desconcentrava dos livros, aliás quando estudava me sentia livre, uma sonhadora, em um outro mundo… e tinha certeza que alcançaria meu objetivo: proporcionar uma vida melhor aos meus filhos e pais, pois sem o apoio da ‘dona Tiana e do seo Salvador’ não conseguiria continuar lutando e a criação dos meus filhos seria de muito mais sacrifícios”, declara entre lágrimas.
Anos após, surgiu o tão esperado concurso da PGE e Senise não passou. Questionada se pensou em desistir, responde ávida: “Esta palavra não existe na minha vida. Aprendi com os erros e continuei estudando”. Ao ver o empenho dela, o procurador Jesus de Oliveira Sobrinho autorizou que começasse a levar os livros da biblioteca para estudar em casa e, assim, ficasse um pouco mais com sua família e conforto. “Sou muito grata a ele, pela sensibilidade de ter me ajudado”. E tanta dedicação valeu a pena. “Não deixei a segunda chance escapar de minhas mãos. Quando passei no concurso foi um misto de alívio, felicidade, orgulho, realização, um mix de sentimentos sem palavras que consigam expressar. Foi uma alegria para minha família, um dia inesquecível”, lembra sorridente.
Perguntada sobre a carreira, imediatamente responde que “cada dia para mim é um novo dia na PGE, é meu primeiro dia. Visto meu melhor sorriso porque é graças ao meu trabalho que consegui realizar meus sonhos, dar a volta por cima e retribuir tudo que meus pais fizeram por mim. Eu nunca me contento com o pouco, tento me aprofundar em conhecimento em cada desafio que aparece para resolver… Ser procurador é procurar constantemente se aperfeiçoar como profissional, não basta conhecer somente o mundo jurídico, precisa ter sensibilidade no trato com os desafios, comprometimento com o trabalho, não pode ser acomodado, precisa ter ética e oferecer o melhor serviço em defesa do Estado visando a coletividade, o bem comum para a sociedade. Hoje tenho mais uma filha que digo que veio coroar a nova fase da minha vida… na verdade, meus três filhos são as sementes do meu coração que plantei nesta terra”, finaliza feliz ao retratar um pedacinho da sua vida vitoriosa.
“Não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim.” Jean-Paul Sartre
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